Moradores entendem que centro histórico está sendo atingido
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Na Gervásio, em breve cinco novas bancas |
A liberação pela Prefeitura de Piratini para que estreantes e comerciantes já inseridos na informalidade erguessem suas bancas na Rua Gervásio Alves, ao lado do colégio Inácia Machado da Silveira, tem ocasionado reclamações de alguns moradores da rua que descontentes com a transformação da via e sua estética, procuraram o Eu Falei.
- Nossa rua é bonita, calçada, com canteiros centrais, mas agora temos que conviver com um novo camelódromo. Achei horrível, entendo que todos precisam trabalhar, mas a prefeitura vai liberar em todo centro agora? – questionou uma moradora, que para não se indispor com os novos vizinhos requisitou anonimato.
- Eu lamento porque nosso centro histórico tá começando a se parecer com Pelotas. Para o lado que tu olha tem camelô vendendo. Aqui tá tudo sem padrão, uma banca de um jeito e a outra de outro. Nem se tivesse padronizadas eu gostaria de vê-las montadas na rua onde moro - opina outro residente da Gervásio.
No prolongamento da Rua Osvaldo Aranha, onde há dois anos duas bancas foram a autorizadas a se instalar ao lado de um trailer já existente, as reclamações não são menores.
- Outro dia flagrei um homem ao telefone vendendo drogas. Ouvi toda a conversa da negociação e ele estava escondido entre as bancas, pois a rua é escura e facilita também para usarem como banheiro. O cheiro de urina é forte. Esta cidade é histórica mas vão encher ela de barraquinhas já tendo um camelódromo - reclama uma das vizinhas às bancas que impediu, ao reclamar na prefeitura, que uma outra fosse ali instalada.
O lado de quem sobrevive da função
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Barbeiro investiu cinco mil reais |
Para Colmar Goetzke Ferreira, 48 anos, a autorização concedida pela prefeitura significou o adeus ao aluguel pago religiosamente todo mês e que reduzia o lucro da barbearia mantida por 13 anos na Avenida Maurício Cardoso, a metros do futuro endereço.
- Agora to tranquilo pra minha aposentadoria quando chegar a hora. É o último mês que pago os R$ 256.00, do aluguel – comemora o barbeiro à janela do novo pequeno salão que teve um custo de cinco mil reais.
Logo ali, Gábia Lopes, 23 anos, aguarda junto ao marido, Joel Gonçalves,28, o final da pequena loja construída em madeira e ainda em formato rústico.
Em breve, a família espera que o comércio de artigos esportivos comprados em São Paulo, possa quem sabe um dia, significar a independência. Eles já haviam tentando se instalar na Osvaldo Aranha, mas segundo o casal, o descontentamento dos comerciantes mais antigos mudaram os planos.
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Jorge deixou de pagar aluguel |
Em breve, estão previstas mais três bancas para o local, que conforme informações, comercializarão artigos de artesanato, de correaria e uma terceira com produtos importados em geral.
Sossegado e a espera da clientela, que segundo ele garante líquidos mil reais mensais, Jorge Dutra, 50 anos, é outro barbeiro que está feliz com o local de trabalho.
Na parede, ajeita o quadro onde abriga alvará, documento que o autoriza a funcionar na Osvaldo Aranha e, pelo qual paga pouco mais de trinta reais por mês.
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Das bancas, dupla tira o sustento |
- Eu estou nesta profissão há 13 anos, tive barbearia em outros dois endereços e o custo do aluguel era de um salário mínimo. Agora fico tranquilo. Essa aquisição foi tudo, o grande passo na minha vida – avalia o barbeiro, instalado há quatro meses na construção do tipo chalé e que teve como custo R$ 2.500,00.
Quando o movimento tá calmo, Jorge troca uma ideia sobre todos os assuntos com o vizinho mais novo em idade, mas há mais tempo no local.
Colmar Duarte, 48 anos, é uma das vítimas do êxodo rural e quando o trabalho no campo e no quinto distrito não garantiu mais o sustento, correu para a cidade e, em 2008, investiu R$ 5.000,00 para construir sua banca e da venda de brinquedos e outras variedades reequilibrar o orçamento familiar.
- Um mês dá outro não. Pra ajuda eu ainda faço uns biscates aos fins de semana. É a minha luta honesta pra sobreviver. Sei que alguns reclamam, mas entendo que não tiramos espaço e nem incomodamos ninguém – disse o comerciante.