quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Assembléia dos Passarinhos


“Olhai para as aves do céu, não semeiam, nem ceifam, nem fazem provimentos nos celeiros; e, contudo, vosso Pai celestial as sustenta. Porventura não sois muito mais do que elas? E qual de vós, discorrendo, pode acrescentar um côvado à sua estatura?”

(Jesus Cristo, em Livro de Mateus, capítulo 06, versículo 26).
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Na tarde de domingo de 02 de dezembro, num sítio próximo à cidade de Piratini, aconteceu uma assembleia diferente, toda formada de passarinhos agrupados em pitangueiras, coronilhas, de forma que todos se viam e se ouviam.
Estavam ali, dentre outros: tesourinha, canário, cardeal, sangue-de-boi, anu, joão-de-barro, pomba-rola, beija-flor, noivinha, sabiá.
Os humanos que puderam apreciar a reunião, enquanto mateavam à sombra das árvores nativas, não conseguiram, claro, decifrar os temas abordados por aqueles seres alados.
Enquanto um pássaro chilreava, outro o aparteava com um canto, sempre autêntico. Os humanos, por momentos intensos, desligaram os rádios de seus carros, calaram suas angústias e falas fúteis, exclusivamente para apreciar o fato inusitado.
Aquilo durou uns quinze minutos. De repente, encerrou-se a falação ou cantação da passarada. Todos voaram, cada um para um lado.
Cogitou-se, dentre os humanos, após várias indagações que, devido à data – 02 de dezembro – e por se tratarem de pássaros situados, geograficamente, no Rio Grande do Sul, concluiu-se que o objetivo do encontro tinha sido o de organizar um manifesto no próximo dia 04, em homenagem à memória de Gildo de Freitas, falecido  nesse dia, em Porto Alegre, no ano de 1983, por sua imortal canção “História dos Passarinhos”, a qual se constitui num popularíssimo monumento musical à liberdade dos animais.
Gravada em 1964, no LP “O Trovador dos Pampas”, portanto, há 48 anos, até hoje as emissoras de rádio do Rio Grande do Sul e dos Estados onde é difundido o regionalismo gaúcho, rodam, diariamente, essa composição de Gildo de Freitas em parceria com  Palmeira, regravada por conjuntos e cantores.
O trecho abaixo da canção justifica a razão de tanta popularidade pois desperta em nós, seres tidos como “racionais” mas em tantas vezes cruéis com os outros animais, a compaixão universal e uma ética não somente entre seres bípedes e de cérebro desenvolvido:

“Cantava que redobrava
 Aquele pobre bichinho
 Parece até que dizia:-
É triste eu viver sozinho...
 só porque eu fui procurar,
 Comida pra os filhotinhos...
 E fui tirar desse alçapão...
 Hoje eu estou nesta prisão
 e nunca mais fui no meu ninho.”

- Que os humanos imitem os pássaros no exemplo de viverem com simplicidade e liberdade.

Piratini, 02 de dezembro de 2012.


JUAREZ MACHADO DE FARIAS
juarez.piratini@yahoo.com.br


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